Durante décadas, o autismo foi amplamente representado pela imagem de uma peça de quebra-cabeça. Criado em 1963 pela National Autistic Society, do Reino Unido, esse símbolo buscava ilustrar a complexidade do transtorno e as dificuldades enfrentadas por pessoas autistas para “se encaixar” na sociedade. Porém, com o passar dos anos, a própria comunidade autista passou a questionar e rejeitar esse símbolo.
A crítica gira em torno do fato de que a peça do quebra-cabeça remete à ideia de algo incompleto, enigmático ou defeituoso. Além disso, esteve historicamente associada a campanhas que tratavam o autismo como um transtorno a ser “curado”, corrigido ou superado — uma visão que desconsidera a singularidade das pessoas autistas e reforça estigmas.
O surgimento do símbolo do infinito colorido
Em resposta a essas críticas, um novo símbolo ganhou força e passou a ser defendido por coletivos, ativistas e pesquisadores ligados ao movimento da neurodiversidade: o infinito colorido.
Esse laço em forma de infinito, representado com as cores do arco-íris ou com tons vibrantes, simboliza:
- A diversidade e amplitude do espectro autista;
- As infinitas possibilidades de expressão, comunicação e desenvolvimento;
- A valorização da neurodiversidade como uma variação natural da cognição humana;
- A busca por uma inclusão real, com respeito às diferentes formas de ser.
Segundo o Autistic Self Advocacy Network (ASAN), organização fundada e gerida por pessoas autistas, o infinito colorido é mais representativo, inclusivo e coerente com os princípios da autonomia, da escuta ativa e da luta contra o capacitismo.
Escutar as vozes autistas é o caminho
No Brasil, entidades como o coletivo Capricha na Inclusão e ativistas como Patrícia Almeida, do Portal Inclusive, também reforçam a importância de abandonar o quebra-cabeça como símbolo. Para essas lideranças, não se trata apenas de mudar uma imagem, mas de transformar uma mentalidade.
Essa mudança também acompanha a evolução de datas e campanhas públicas, como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo (2 de abril). Em diversas partes do mundo, instituições passaram a adotar o infinito colorido em vez da peça do quebra-cabeça e a substituir a cor azul — historicamente ligada a uma visão masculina e reducionista do autismo — por representações multicoloridas, que refletem a pluralidade do espectro.
Um convite à sociedade
Adotar o símbolo do infinito colorido é mais do que um gesto simbólico. É uma forma de dizer que as pessoas autistas não estão quebradas e não precisam se encaixar em padrões impostos. Elas merecem ser respeitadas, acolhidas e compreendidas em sua singularidade.
A mudança do símbolo é um passo importante em direção a uma sociedade verdadeiramente inclusiva, onde as vozes autistas são ouvidas e valorizadas.